quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Crítica de Francisco Guarnieri


O grande mérito de "Sofia" é a relação da câmera com a personagem-título. É uma relação extremamente sincera e, principalmente, encantada com todas as ações da garota. Isso estabelecido, parece impossível o espectador também não se encantar com Sofia e, consequentemente, com o filme. Essa relação câmera-personagem está explicitada em alguns momentos do filme: como quando Sofia e Martin conversam sobre um filme visto e ela defende com vigor seu ódio à película (com uma sutileza de expressão e sorriso que a câmera capta com prazer) e, é claro, num dos primeiros planos, lindíssimo close do rosto da protagonista com um céu inacreditavelmente azul como fundo e moldura daquele rosto; um plano magnífico que, com o complemento da voz em off, estabelece muitos dos sentimentos que iremos compartilhar com Sofia.
Logo após esse plano, o filme entra numa atmosfera um tanto quanto realista. Objetiva-se estabelecer para o espectador um pouco da vida da garota. Obejtivo cumprido com muito encantamento e força, porém perde-se um pouco do lirismo. Com a entrada de Martin o tom já muda e, a partir da metade, o filme se entrega de vez aos sentimentos de Sofia, deixando de lado qualquer compromisso com uma narrativa mais quadrada. Somos (espectador e câmera) levados por nossa protagonista a um mar de dúvidas e frustrações imageticamente representadas por belíssimos planos de uma Florianópolis urbana pouco difundida no imaginário criado para a cidade perfeita, que é considerada a capital de Santa Catarina. E somos arrebatados, por fim, pela seqüência dos televisores, que com uma solução visual simples e linda e um trabalho de som admirável, pulsa e transmite toda a emoção de Sofia, o filme e a personagem.
O que resta é nos perdemos com nossa encantadora menina naquele mar de asfalto...

Francisco Guarnieri (crítico da revista de cinema Paisà e colaborador da Cinética e Contracampo).

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